Lacan concebe o cartel como forma de agregar sujeitos do Umwelt à associação psicanalítica. O cartel apresenta certas situações definitórias:
· Não possui duração definida por poder extracarteliano;
· A ek-sistência do cartel instala-se de acordo com a metonímia ou a conjunção com outros significantes cartelianos, na trilha epistêmica da solução de algum problema.
O setting psicanalítico do cartel tenta neutralizar os graves defeitos dos grupos rotineiros e assim nomeados, tais como:
· Cisão, fusão, automartírio do interesse subjetivo em detrimento da visão do grupo e a nadificação das pulsões dos objetos individuais ou do sujeito.
O cartel teatraliza, na esfera do inconsciente, conceitos como sujeito, significante e saber, em sua dinâmica interna. O xadrez dos O(o)utros como participantes cria um espaço de liberdade e poiesispara a instalação da alteridade (de acordo com a afirmação em negativo de Freud: Ama a teu próximo como a ti mesmo), pois não se trata de amar o próximo, o semelhante, e sim de reconhecer o outro, como outro mesmo. Singular, ocupando o lugar do Um e fugindo da idéia do amor ao próximo que se assemelhe ao sujeito.
As pulsões que nutrem a phillia no cartel implicam nas condições para que a diferença e a singularidade do Outro habitem a intersubjetividade. Há uma questão enigmática ou um X epistêmico que alimentam a ek-sistência do cartel. A solução desse enigma é como o tempo lógico da sessão de análise: momento de ver, momento de compreender e momento de concluir na enunciação.
Se a enunciação, que pode ser alcançada somente através do Outro, for adiada, desconsiderada no desvario cronológico, o sujeito regride ao estado de angústia e de um saber não sabido, da situação anterior.
O cartel é uma utopia da psicanálise de conceder à associação psicanalítica o status próximo de alguma formação do inconsciente.
Nele, entre os enunciados (discursos do Eu/Moi) e as enunciações (discursos do Eu/Je) emergem preferencialmente as enunciações: o Outro, o objeto a, o Eu/Je, o inconsciente, pulsões, repetição e transferência.
O Mais Um faz o laço social sem que o sujeito não submerja no nada do coletivo.
O cartel como lugar de movimento transferencial afirma-se como forma de trabalho, sem resvalar para a neantização dos grupos comuns.
Invocando a teoria dos riscos da escritura inscritos na Farmácia de Platão, do filósofo J. Derrida, o cartel suspende a escritura ou a letra, como no início da análise, para restabelecê-la mais tardiamente na esfera do significante que é a única escritura discursiva legível para a psicanálise.
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Brasília, 14 de Janeiro de 2009
Dr. De Campos Menezes, Médico, Psicanalista, Analista Didata, Conferencista