por Dr. Campos
O Simbólico em psicanálise é construído na medida em que o sujeito passa pela lalangue (alíngua) e linguagem, e se torna um parlêtre (falasser ou sujeito da fala). Parlêtre é aquele que fala e tem a linguagem como númeno platônico/kantiano que passa ao fenômeno.
O parlêtre tem a estrutura da arqui-escrita que redunda na linguagem e discurso, devendo ser a linguagem metafórica e metonímica. Portanto, o falasser é possuidor da hermenêutica original que permite ao sujeito ir além de seu próprio Um lacaniano, transformando-o em quase-dois-sujeitos garantidos pelo ordenador maior. Esta ordenação se dá em meio aos significantes, através do significante do Nome-do-Pai. Este é uma Outrificação que cria mundos e faz a redução fenomenológica ou redução eidética, de acordo com o pensamento de Edmund Husserl. A redução eidética compactua com o mundo das essências ideativas, depois de transpormos o númeno de Platão.
O falasser pode estar nos campos noemático ou noético, estruturas do nous da antiga Grécia.
Para exemplificar. A arte se expressa hoje no mundo fora do lògos. Para ser dita, o sujeito precisa do nous, intelecto e razão suficiente. Fora da razão, não é possível nenhuma significação.
No caso do delírio e da alucinação, não há interpretação nem plasticidade metafórica da linguagem. O delírio não é construído pelo sujeito como vontade, desejo e lògos. No delírio do louco, a linguagem fala o sujeito, por um automatismo bizarro de não-semiótica.
O significante, no nó borromeano RSIƩ, representa o Simbólico como mecanismo integrador do sujeito da fala ou parlêtre. O significante representa a história do Eu/Je ou sujeito do inconsciente.
O Simbólico tem um pragmatismo na busca do sentido. Caso não se faça a busca do sentido, o objeto da interpretação permanece numenicamente como a coisa-em-si, não pensada, não beneficiada pelo cogito cartesiano e desprovida da redução fenomenológica (busca da essência do objeto) e sem a Idea, essência do mundo como queria Platão.
O Real e o Imaginário só podem ser pensados pelo Simbólico como razão na psicanálise que permeia a estrutura neurótica, mas nunca a estrutura psicótica ou a loucura.
O signans e o signatum nasceram com Santo Agostinho e evoluíram na linguística com Ferdinand de Saussure para o significant e signifié (significante e significado) que acabaram se transformando na topologia lacaniana excludente do significado. Na semiologia lacaniana, emergiu a fórmula “o significante só tem sentido para outro significante”. Ou esta outra afirmação matemática de Lacan “o significante representa o sujeito para outro significante”.